Residência F&R
[projeto] Brasília, DF Ano do projeto: 2023 Autoria: Thiago de Andrade e Manoel Fonseca Colaboradores: Pilar Pinheiro Sanches, Gustavo Santos Memória: O projeto para esta residência nas quadras 700 do Plano Piloto de Brasília foi desenvolvido a partir de uma análise de diversas oportunidades de compra para que o casal com quatro filhos construísse ou reformasse um imóvel para uma nova vida familiar. A melhor opção surgiu na compra de uma casa para demolição total, em terreno de 8,51 x 20m. Essa necessidade surgiu das inúmeras patologias existentes, inclusive estruturais, bem como de sua implantação abaixo do nível da rua de acesso de veículos e da impossibilidade de se erguer mais um pavimento. A casa foi originalmente construída como provisória para abrigar o corpo de engenheiros pioneiros que vieram construir Brasília. Fora, portanto, edificada sem fundações profundas e sem paredes duplas nas divisas com as demais casas geminadas adjacentes. Desta forma, torna-se imperativo corrigir tais problemas técnicos, especialmente o nível de acesso e a devida proteção às águas pluviais que correm na rua de acesso. E é dessa premissa que ocorre a primeira potência de implantação: a criação de espaços significativos a partir do programa que impunha um grande número de quartos para serem resolvidos com qualidade espacial e ambiental. Especialmente as ventilações e iluminações naturais necessitavam de várias estratégias de aberturas e visuais para o exterior. Observou-se um desnível de cerca de 60cm entre a rua de acesso de veículos e a frente formal do lote. A fachada frontal se abre para um parque entre duas quadras de casas geminadas, a característica mais marcante e essencial dessa urbanização. Tal característica se constitui, atualmente, como o grande valor da Escala Residencial de Brasília, conforme concebida por Lucio Costa. Isto é, mesmo não sendo uma casa em Superquadra, ela guarda certos elementos que configuraram a maior contribuição brasileira à história do urbanismo ocidental: a arborização de grande porte, a distância entre fachadas e a presença de vazios urbanos esteticamente qualificados. Some-se a isso o porte das árvores já sexagenárias e com mais de 20m de altura e copa de largura parecida. Aproveitamo-nos, então, desse desnível para configurar uma casa com duas alas em meios-níveis. Proporciona-se que dois dos quatro quartos das crianças do casal possam se abrir para a frente original do lote, vislumbrar a copa das árvores e receber iluminação natural abundante. Aproveitando-se dos lances de escada contínuos, o terraço que cobre o quarto do casal se torna acessível e útil para o lazer, a prática de exercícios físicos e a aproximação dessas mesmas árvores e sua luz filtrada que gera belas sombras. O vazio central é tomado pelo zigue-zague das escadas, que alçam voo sobre um jardim interno e liberam um dos lados para uma articulação entre as duas alas da casa através da sala de jantar. Desce-se, a partir dela, para a sala de estar com dois ambientes e saída direta para um pátio na área externa concedida como jardim para uso privativo para cada das casas dessa região. Como necessidade de organização desses meios-níveis, o pé direito da garagem, área de serviço e cozinha é de cerca de 3,6m. Sua implantação é feita à semelhança de um móvel, solto no espaço fazendo a divisão desses ambientes. Isso corrige a proporção do espaço linear da cozinha, conferindo-lhe o destaque necessário como única divisória visível do centro da casa. A sala de estar, em oposição, configura-se envolta pelos dois jardins laterais que criam uma ambiência mais intimista para o sofá e sala de televisão. E os espaços das duas salas vão de empena a empena sem obstrução. As empenas são ligeiramente curvas em função da necessidade de se construir uma estrutura completamente nova, faceando o limite do lote do vizinho, totalmente no interior do lote do nosso projeto. Assim, partindo-se do ponto mais pronunciado desse pilar, desenham-se arcos que tangenciam esses pontos e os limites do lote. De forma a evidenciar essa curva sutil, optamos pelo uso do tijolo cerâmico aparente, e os vazios laterais aos pilares servirão ainda de espaço para descidas de tubulações de esgoto, água potável, elétrica e águas pluviais. As fachadas recebem tratamento que a uniformiza, de modo a garantir a privacidade dos quartos e a proteção contra a insolação direta. Um ripado de madeira ou alumínio ultrapassa os limites e configurações das janelas e fazem, de uma só vez, função de guarda-corpo, platibanda e arremate de elementos estruturais. Com as estratégias e soluções aqui narradas, esperamos ter construído uma casa que pudesse ser, ao mesmo tempo, íntima e alegre, aberta ao uso familiar intenso, sem desconsiderar a introspecção e o isolamento opcional. Com flexibilidade para que a vida e o uso cotidiano possa reconfigurá-la e dar-lhe novos significados ao longo do tempo do amadurecimento da vida dessa família. |