Casa Luz - Residência M&T
[construído] Premiado pela Premiação IAB 2021 - Edição Centenário, Região Centro-Oeste, na categoria "Interiores e Design". Brasília, DF Ano do projeto: 2022 Conclusão da obra: 2023 Autoria: Thiago de Andrade, Manoel Fonseca e Marianna Resende Colaboradores: Raquel Vitória, Gustavo Santos, Angelina Trotta Obra: Cliente Imagens renderizadas: Manoel Fonseca Memória: Casa Luz A reforma desta casa se caracteriza pela clara intenção de trazer luz e revelar história. Trazer luz a ambientes que, mesmo de boas dimensões, eram escuros, soturnos e mal configurados. E revelar a recente, porém já distante socialmente, história da ocupação do bairro Lago Sul. Como uma das primeiras casas em uma das primeiras quadras ocupadas, ela se sobressai justamente por sua simplicidade volumétrica, construtiva e implantação no meio do lote, que preserva boa distância da rua. Ao longo dos anos, entretanto, reformas descaracterizaram essa simplicidade inicial sem, contudo, cair no comum desejo de reconstruí-la como um palacete ou casa de alto padrão. Ao contrário, as adições foram claras tentativas de ativar espaços de lazer e transição entre o exterior e interior: um diagnóstico preciso das carências do projeto original. Agora é hora de trabalhar com subtrações que possam trazer o verde para dentro da casa, luz natural abundante e, sobretudo, criar privacidades e reconfigurações claras, bem articuladas, entre a área social e aquela mais privada e íntima. Esse se torna o principal modo operativo do projeto. Começa com a revelação de toda a estrutura de concreto convencional, especialmente pilares. Aqueles situados no perímetro da edificação passam a configurar uma arcada que circunda a casa. Aqueles no centro dos cômodos, viram colunas autônomas que, por seus alinhamentos originais, acabam sugerindo os limites virtuais do leiaute dos móveis e funções residenciais. Em seguida ao desnudamento dos pilares, enfrenta-se o problema de o que fazer com as lajes e pisos. Como são lajes de forro muito delgadas e de grande simplicidade construtiva, algumas podem dar lugar a vazios, jardins internos e pés-direitos mais altos. Os pisos também são revelados no seu estado bruto, em concreto, nas franjas da edificação, alinhados à arcada criada pelos pilares. As vedações, sejam elas planos de vidro, cobogó ou algumas novas paredes, precisam, nessa lógica, de autonomia. Uma forma de afirmar o novo em claro diálogo com o pré-existente. Funcionalmente, a casa inverte suas principais alas. Onde originalmente ficavam os quartos, agora está a cozinha e salas de jantar e estar. Em contrapartida, em sua ala anterior, agora estão os quartos que se abrem para o jardim na maior distância possível da piscina. Criam-se varandas que separam esses novos planos de vedações do alinhamento dos pilares em arcada. As entradas da casa passam a ser várias e a responder aos diversos públicos e usos em eventos. A entrada cotidiana dos moradores passa para a lateral junto ao muro, em corredor com claraboia que traz luz ao jardim lateral da casa e evita novos planos de esquadrias. Uma outra entrada social para convidados de eventos menores ocorre no centro da casa, na entrada principal que já se encontrava configurada. E uma terceira, para grandes eventos, em torno da piscina e jardim pela lateral esquerda da casa, no amplo recuo existente, acompanhando o jardim mais arborizado que leva até o maior pátio da piscina. O ponto de maior destaque e trabalho de intervenção é a nova sala de estar e jantar. Um amplo e inusitado eixo transversal configura três salas e integra o lote de lado a lado, revelando toda a sua dimensão. Começa com a sala de TV ao lado do muro do poente, passa pelo estar convencional e termina na sala de jantar ao lado do muro da nascente. Dessa forma, acabam-se os “fundos” da casa, os limites passam a ser, em essência, aqueles do próprio terreno e, não mais, os da edificação em si. Nesse eixo serão demolidas as lajes e será criado um jardim interno que o separa da ala dos quartos. Uma nova cobertura inclinada dos fundos, fachada sudoeste, para a frente, fachada nordeste, é criada e oportuniza a configuração de um pé-direito alto com uma abertura em grande janela para observar a copa da mangueira que conforma o espaço da praça já existente ao fundo do terreno. Além disso, essa janela alta de fora-a-fora traz o céu para o interior da casa e evita um único enquadramento visual possível do exterior através da varanda. No outro lado, mais insolado, uma pequena abertura permite a ventilação cruzada e um equilíbrio da iluminação difusa, evitando uma contraluz constante. A cozinha e a entrada social convencional da casa ficam, propositadamente, sob a laje original com pé-direito de cerca de 2,7m. Essa é uma característica importante desse espaço único, central da casa, que cria ambiências por meio da espacialidade de cada cômodo, mesmo tendo um piso todo integrado. Há uma variação espacial que não pode ser lida imediatamente do exterior da casa. Desta forma, por meio de duas intenções originais que surgiram desde os primeiros diagnósticos e de dois modos operativos que surgiram do processo de projeto, a casa se configura como uma obra que, apesar de ser francamente aberta, envidraçada e iluminada, guarda ainda surpresas e sutilezas na intervenção que lhe conferem valor e durabilidade como projeto, tanto como ideia quanto como materialidade. |