Escola Técnica Criativa SENAC Salvador
[projeto] Salvador, Brasil Ano do projeto: 2023 Coordenador responsável técnico: Thiago de Andrade Coautores: Ana Cecília Ferraz, Manoel Fonseca, Pilar Pinheiro Sanches Colaborador: Victor Luz Memória: As restrições do lote - encosta, recuo frontal, água no subsolo e outros -, as condições urbanas imediatas e as intenções e propósitos do Termo de Referência encaminharam as escolhas de implantação e a estratégia de ocupação dos pavimentos. O projeto é caracterizado pela abertura ao público, pela franqueza de seus acessos e pela busca da flexibilidade e da maior horizontalidade possível. Evitam-se, assim, grandes deslocamentos e privilegia-se maior integração entre alunos, professores e funcionários. Buscamos, tanto quanto possível, a criação de um sistema: espaços intimamente ligados à construção em aço modulado em 1,2m, articulado a partir de uma série de treliças metálicas. Elas se apoiam no embasamento de concreto no térreo e têm altura de um pavimento de 4,2m, se cruzando em 90º e invertendo o sentido em cada pavimento. Tal modulação busca aproveitar, sem perdas, as peças de aço em perfis “I” laminados com 12m de comprimento, tamanho em que são fabricadas. A oportunidade, quase óbvia, de se conectar à passarela de Lelé nos fez pensar em dois “térreos”: um aéreo, avarandado para a rua, que permite miradas ao horizonte e ao verde do Parque da Cidade; e um ao rés do chão. Essa dualidade permite articular, portanto, duas possibilidades de relação com a cidade. Uma próxima, gregária, viva e movimentada, a outra, bucólica, mais distante, deliberada e menos contingencial, que implica a busca da fuga do burburinho. O térreo no nível da rua abre generosamente sua fachada em vão de 24m e inclui o seu anfiteatro multiuso como mais um espaço da rua. Três funções prioritárias animam esse espaço: um restaurante-escola, proposto por nós, embora não constasse no programa, um café-escola e o mencionado anfiteatro.
Logo acima do vão de entrada dedicado aos restaurantes, encontra-se a biblioteca como uma grande fachada expositiva, a demonstrar a função primordial do edifício: a educação. Propõe-se uma biblioteca de estudo e de referência, próxima aos dois acessos públicos, o térreo ao rés do chão e o térreo elevado. Entre os dois pavimentos, tanto o público interno quanto o externo podem encontrar refúgio dos ambientes de multimídia amplamente difundidos nos demais pavimentos da Escola Técnica e Criativa do SENAC. Na outra face desse pavimento, encontra-se a administração da escola e demais aparatos ligados à docência. No térreo elevado, nível da passarela que atravessa a avenida, a entrada é controlada de modo não ostensivo, permitindo aos visitantes acesso à varanda, que dispõe de mobiliário confortável e redes de descanso. Neste piso encontram-se, diretamente ligadas à varanda, as funções de interesse específico do visitante: podologia, futuro salão de beleza, realidade estendida. Nesse pavimento, as funções educativas dedicadas ao ensino dos games e TI, e idiomas, foram distribuídas em torno de um núcleo multifuncional, flexível, com diversas possibilidades de configuração e compartilhamento, seguindo o Termo de Referência deste Concurso, à semelhança do que propusemos para o anfiteatro no térreo. A partir desse térreo elevado, uma rampa sobe para os outros dois pavimentos educativos. Ela fica ao fundo do pavimento, em um prisma de ventilação e iluminação natural, e permite que os usuários se aproximem da encosta e da vegetação original. Ali é possível perceber a topografia do morro que desaguava no vale, ocupado e suprimido pela rodovia. Nesse local, a rampa evoca a retomada da percepção de uma paisagem constituidora da capital soteropolitana. Por isso é tão importante ascender nesse vazio relacionado ao morro pré-existente. No pavimento acima do térreo elevado, o programa de educação e capacitação continua. Estão ali a saúde, design e games, ligados a um núcleo de tecnologia, especialmente laboratórios com uso intensivo de equipamentos tecnológicos. Estes devem ser compartilhados para otimizar seu uso, sua gestão e, principalmente as trocas e aprendizado coletivo e espontâneo entre alunos. Invertido em relação ao térreo elevado, o espaço coletivo de descompressão, descanso e lazer, encontra-se ao fundo do lote, em vazio criado ao lado da rampa e com vistas, novamente, ao morro. Ali, um canteiro elevado e a abertura zenital estabelecem, junto com a vegetação nativa, uma oposição à rigidez modular do projeto que o sistema proposto ensejou. A ascensão pela rampa continua rumo ao último pavimento. Nele, as escolas de moda e gastronomia acessam um terraço com altura suficiente para perceber a amplitude do outro lado do vale, cuja rodovia sequestrou. Suas belas curvaturas e resquícios de mata sugerem, por meio dos grandes eixos rodoviários, a dimensão metropolitana de Salvador. Neste percurso de espaços que buscaram ser, sobretudo, livres e generosos, acreditamos que a arquitetura, na medida de suas potências, contribuirá para uma escola técnica, alegre, feita de buscas e encontros e, sobretudo, criativa. |