Cocuruto - Residência de Campo
[construído] Premiado com o 1º Lugar Geral, prêmio Nauro Esteves, no concurso Nova Arquitetura de Brasília em 2007. Projeto exposto na 8ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, em 2009 Projeto exposto no Brazilian Design Perspectives em Singapura, 2008 Brasília -DF Ano do projeto: 2002/2004 Conclusão da obra: 2007 Autoria: Thiago de Andrade Co-autoria: Luiz Otávio Chaves Obra: Thiago de Andrade e Luiz Otávio Chaves Fotos: Joana França Memória: "Cada objeto cria seu espaço infinito." - Jean Genet O que diz mais sobre a construção desta residência é sua posição na paisagem, a posição que ocupa e aproxima o ilimitado corpo da natureza ao convívio familiar do construído. Estas relações datam do gesto inicial de concepção da proposta: situar a primeira etapa de construção na porção posterior do lote, onde o declive é mais acentuado. Tal opção poderia parecer contra-senso para muitos, não fosse o conjunto de relações que assim passa a estabelecer com o extenso território do cerrado. A casa está implantada em duas alas que se conjugam a um deck na altura da copa da vegetação circundante. Os módulos de 4,40x4,40 metros obedecem a uma dupla conveniência: guardam uma proporção áurea entre vãos e altura e estão em conformidade com as cargas que suportam. Toda a superestrutura é feita por pilares e vigas de madeira. Nas fachadas sudeste e nordeste o corpo da casa se abre em amplos panos de vidro, enquanto que nas fachadas opostas, a abertura é dada por um detalhe no assentamento dos tijolos, medida que se dá também, por questões bio-climáticas. Já há tanto que observamos o bom funcionamento dessas soluções, onde as fachadas do poente (noroeste/sudoeste) criam uma área de baixa pressão atmosférica e aperfeiçoa o mecanismo de ventilação cruzada. A inusitada combinação entre materiais, tradicionalmente não conjugados dessa forma, cria aqui um ponto alto: pode-se dizer que eles ganham quase uma oportunidade de se mostrarem assim em tal relação, revelando uma série inumerável de forças e relações plásticas. Cabe dizer que a escolha do nome é antes de mais nada informal e coletiva em ocasião da inauguração da cobertura, a chamada festa da cumeeira. Ora, não havia razão para manter esta denominação, assim, criou-se o nome tão singelo e popular: cocuruto. Graças à abóbada de arco pleno, que, em duas alas, cobre toda a extensão da casa. Sua estrutura é feita em tijolo, e conta com o aço para combater os empuxos laterais, tanto na malha que a recobre garantindo a aderência da camada de concreto, quanto nos tirantes metálicos presos aos pilares. Esta cobertura é o elemento de articulação que permite maior riqueza de relações espaciais. No espaço externo, aberto ao convívio comum, a abóbada se mostra como um objeto capaz de medir as relações com o entorno, o próprio tamanho das coisas. Aqui, a escala de sua presença é capaz de deslocá-la de tudo que a cerca; manifestação de cultura em meio ao amplo domínio da paisagem. O interior, por sua vez, possui a devida ambiência de refúgio e distância. Aqui, a paisagem toma o contorno de proximidade: ela se avizinha. Assim, nesses sucessivos movimentos de distância e proximidade, a natureza é colocada em par com os objetos da cultura, e se torna, assim como o indivíduo, razão primeira desta obra. Carlos Henrique Magalhães |