Residência D&H
[projeto] Brasília - DF Ano do projeto: 2021 Autoria: Pilar Pinheiro Sanches Co-autoria: Manoel Fonseca e Thiago de Andrade Colaboradores: Angelina Trotta, Lucas Sousa, Máwere Portela Memória: Brasília, para Lúcio Costa, era uma cidade da paisagem, entre o artificial e o natural. Entretanto, há uma instigante dicotomia inaugurada por Carlos M. Teixeira, que propõe o contrário, que a cidade seja uma cidade-mato, criada pela inusitada e cada vez mais valorizada paisagem do cerrado característico do Planalto Central. As fotos do terreno onde a casa D&H será construída e as imagens aéreas do local denotam uma grande massa vegetal extramuros, exibindo verde a perder de vista e a imensidão como potência. Entendemos, assim, essa paisagem como ponto de partida para definir a ocupação dentro do terreno, valendo-se da massa vegetal que já existe no exterior do condomínio e, buscando continuá-la, abrimos espaço para que o cerrado cresça no interior do terreno. Ao longo do tempo, unirá a casa ao seu redor, dissolvendo suas fronteiras. O cerrado pode apresentar diferentes tipos de vegetação e fisionomias: vegetação rasteira, arbustiva, estrato arbóreo, entre outras. A flora do Cerrado é rica e vem sendo descoberta e domesticada para uso em paisagismo e recuperação florestal. Enquanto espécies exóticas (originárias de outros locais) lutam pela sobrevivência em Brasília há sempre uma semente nativa em hibernação, à espreita de uma oportunidade para prosperar. O crescimento das espécies do cerrado pode ser lento mas há também exemplos que evoluem rapidamente e propomos o cultivo de uma boa mescla, tanto de espécies que possibilitem a cobertura da superfície rapidamente, visando o conforto dos residentes, como de tipologias de crescimento com temporalidades diferentes. A natureza assumirá uma narrativa própria com a passagem do tempo. Apenas uma árvore ficará deslocada desse contexto, plantada em praça seca. Dará boas-vindas junto ao portão da casa e marcará a mudança de direção do visitante que entrará no muro lateral esquerdo. Como consequência das decisões tomadas para a ocupação do terreno, a casa propriamente dita resultou compacta, um volume sucinto e direto que serve às necessidades levantadas, especialmente aquela de causar surpresa, não se apresentar diretamente ao exterior e espantar quem caminha pelos seus espaços internos, suas rampas banhadas de luz. Pensada como uma casa plenamente acessível e não somente adaptada, nivelamos o térreo no meio do terreno. Isso significa 1m abaixo do nível da calçada. Com isso, a sala de estar, escritório, cozinha, despensa, quarto de hóspedes, banheiro acessível, garagem, área de serviço e depósito, guardam relação bastante franca entre o interior e o exterior da casa. As vedações são de portas de vidro transparente que, quando abertas, eliminam fronteiras entre o interior e o exterior. E o acesso à casa é feito através de um espaço importante na nossa arquitetura brasileira tradicional: a varanda. Ultrapassada uma pequena rampa após a piscina, última porção pavimentada, é possível acessar todo o terreno, que, em sua formação natural, tem inclinação acessível. Por meio de rampa, o pavimento superior é acessado. Foi projetado, também, local para instalação de elevador doméstico. Sua localização na fachada frontal (nororeste) foi importante para que os ambientes com maior permanência se situassem nas orientações solares mais propícias e agradáveis ao convívio e permanência. A rampa possui iluminação zenital proporcionada pelo pergolado coberto com vidro. Esta rampa, portanto, inicia uma gradação da luz que aumenta à medida que se ascende ao pavimento superior, culminando no espaço central de chegada. Com a intenção de estabelecer diferentes relações dos ambientes da casa com o exterior, neste piso o espaço aberto é um pátio, para o qual abrem-se os dois quartos, da Daniele e do Henri. Neste pátio descoberto há uma banheira com chuveiro para banho ao ar livre, uma cama com rede e também há espaço para fazer exercícios. Na chegada da rampa há um espaço generoso onde há bicama para fisioterapia, espaço para bicicleta e um armário lateral com apoio para frigobar e uma bancada com cuba. Além da abertura para o pátio descoberto, o quarto da Daniele também possui um janelão voltado para o nascer do Sol e banheiro integrado. Ao lado deste quarto, há uma lavanderia. Do outro lado deste piso está o quarto do Henri, que também se abre para esse pátio. Junto dele ainda há um espaço que poderá ser utilizado como depósito e guardar o colchão da cama externa. O acesso à casa resulta de um percurso bastante arborizado, que regula a descoberta da casa aos poucos e participa da estratégia de criar relações inusitadas entre interior e exterior. A casa que se descobre aos poucos, faz eco à experiência de morar em edifício simbólico dos anos 60 da capital federal, espaços ricos internamente que, de fora, não podem ser lidos, cujas nuances se dão pela relação com a vegetação: a mistura de massas arbóreas externas e internas, a árvore na janela, o sol que acorda a moradora, as múltiplas possibilidades de se exercitar, tomar banho e dormir sob estrelas e observá-las pelo telescópio. |