Residência RRK
[projeto] Premiado com menção honrosa na categoria projeto não construído, no concurso Nova Arquitetura de Brasília em 2007. Brasília - DF Ano do projeto: 2007 Autoria: Thiago de Andrade Co-autoria: Virginia Manfrinato Colaboradoras: Caroline Portugal e Imira Holanda Memória: O projeto parte da consideração criteriosa dos condicionantes do lote, da insolação, e principalmente das residências já implantadas em todos os três lotes vizinhos. Toda boa arquitetura, como sói, deve tomar como dado primeiro as materialidades e imaterialidades do lugar. Disso surge a decisão conjunta, entre proprietários e arquitetos, da tomada de partido da inversão da relação da casa com a rua. Comumente encontrada nos fundos do lote, após a casa, a área de lazer passa a comungar com o espaço da rua, melhorando sua relação com a vizinhança, com as vistas e preservando a casa do contato direto com a árida rua. A partir dessas considerações iniciais, o jovem casal, ainda sem filhos, decide-se por uma casa a ser construída em duas etapas, conforme o crescimento da família. Entretanto, as etapas deveriam apresentar-se plasticamente íntegras e funcionalmente completas, preservando a noção de objeto terminado no caso do primeiro movimento e de conjunto no caso do segundo. Além disso, considerou-se que a expansão dar-se-ia em um segundo pavimento em função da preservação da maior parte do lote vazio para o lazer e do aproveitamento da vista. De posse disso concebe-se um programa pequeno de aproximadamente 130m² para a primeira etapa em um bloco retangular, transversal ao terreno ocupando a quase totalidade da largura do lote, preservando-se o afastamento lateral pedido pelo condomínio. Neste afastamento lateral propõe-se uma cisterna para armazenagem das águas recolhidas na cobertura que escoarão por calhas descendo embutidas nas paredes portantes das empenas. As aberturas ocorrem somente em duas fachadas, a frontal de orientação nordeste e a posterior de orientação sudoeste. Na primeira posicionam-se aberturas em grandes portas de vidro, ora pivotantes na sala de estar, ora de correr na sala de jantar. Na últimas estão as aberturas de quartos, banheiros e saída para a área de serviço. A suave topografia com inclinação aproximada de 7% dá a tônica dos níveis, pois se apresenta como um plano inclinado cujo ponto médio é tomado como referência para a implantação da área de lazer sendo a piscina a divisora da topografia entre essa área e os níveis de acessos para pedestres e automóveis. Além do aspecto plástico e funcional, a piscina agencia duas ambiências desejadas em relação à rua, a de se criar um distanciamento pela elevação de 90cm na área de lazer e a entrada da casa em nível com a rua, criando uma espécie de praça utilizável em eventos de maior porte. E nisto a piscina cumpre seu papel espacial. Utiliza-se, para tal espacialidade coletiva das áreas externas, uma simples paginação identificadora de suas funções e caráteres. A área de lazer recebe pedra portuguesa branca e áreas gramadas e plantadas, de modo a preencher os espaços do muro já construído em todos os 3 lados do terreno nas divisas com os vizinhos. A área de acesso a pedestres recebe uma calçada em pedra portuguesa preta, e o caminho dos automóveis um elemento pré-fabricado em concreto com vazios para grama, garantindo assim uma boa taxa de permeabilidade do lote às águas da chuva. Os níveis na casa são dispostos de modo a criar um pé-direito maior na sala de estar e integrá-la à futura expansão em segundo pavimento, ficando a sala de jantar como articuladora do acesso à parte íntima da casa e funcionando como patamar da subida ao próximo pavimento. Três paredes portantes dão a tônica da modulação estrutural, as duas empenas laterais funcionam como contrafortes dos momentos das vigas e lajes, e a única parede frontal recebe o empuxo das águas da piscina no nível inferior e sustenta a escada de degraus engastados. Delas saem vigas que descarregam em pilares que, quando não estão embutidos em paredes, são cilíndricos em concreto aparente feito com fôrma de ripas. Na fachada um único pilar ganha destaque compositivo e passa a figurar fora da casa com a viga transversal descarregando nele em uma mísula que é a continuidade da viga no sentido longitudinal ao terreno. Em função da necessidade de expansão optou-se por executar uma laje pré-moldada com cobertura leve em telha metálica, porém com beirais em lajes maciças e com detalhes para pingadeiras que tornam a forma de sua seção trapezoidal. Afina-se, então, sua borda e ela permanece em concreto aparente. Destaca-se com este gesto que a estrutura não se comporta como pórtico e sim como a sobreposição de distintos elementos portantes, embora tradicionais e de fácil execução. É, portanto, daí que nasce e se desenvolve o projeto: da consideração de que uma casa guarda, em si, sempre a interface primeira e subjetiva entre o público e o privado, sendo necessariamente dotada também de caráter e ambiências coletivas, cumprindo com seu objetivo mais imediato de funcionar e ser íntegra no seu desenvolvimento e racionalidade, tanto construtiva quanto estética. |