Residência DR
[projeto] Brasília, 2011 Autor: Thiago de Andrade Colaboradores: Larissa Lessa, Isabela Oliveira, Alice Menezes, Natália Costa
Uma casa para uma árvore Em verdade duas casas para uma árvore, tratam-se de uma casa-atelier e uma casa convencional que compartilham os espaços de serviço e os espaços comuns de lazer. Em visita ao lote, foi-nos indicado o possível terreno ao pé de uma das maiores árvores do local. Fincada em uma encosta com um cerrado relativamente preservado ela desponta no pequeno aclive como um marco e uma guia, sugere a potência do solo e principalmente uma sombra protetora que contradiz a vegetação esguia do cerrado. Desta forma pensamos em criar uma casa a sua volta, uma abertura que a ressignificasse, que permitisse um novo olhar sobre ela, mas que mantivesse sua função de marco e de sombra que sugere acolhimento. Ela configurou, então, um eixo no qual as duas porções da casa se dividem em seus espaços internos, mas compartilham aí sua varanda. A partir desta varanda, as alas se inflexionam para um melhor assentamento no terreno, buscando as melhores vistas e insolações, inclusive um possível olhar distante ao horizonte buscando a capela do sítio. Curvas e sinuosidades foram adicionadas ao partido de forma a corroborar o gesto de unicidade das duas casas em torno de uma única ideia de espaço central avarandado. Essa varanda é o ponto central da casa, uma vez que articula a escala bucólica da vista desimpedida para o horizonte com o pátio íntimo da árvore ao fundo, numa clara mudança de escala rumo a um gregarismo possível e de dimensões mais humanas. A transição se dá pelo espaço de lazer e chegada na casa, recobertos por uma transição em vigas de concreto configurando um pergolado. Este dá ritmo e uma certa medida da distância entre essas duas escalas, mas, principalmente, transita entre o espaço aberto do céu e o fechado criado por suas sombras. As duas casas possuem suas alas de áreas íntimas afastadas e autônomas em relação às demais funções da residência. As salas entretanto, são totalmente abertas para a varanda que as une, podendo, assim, configurar um enorme espaço para recepções e festas. Circundadas por vidros, essas fachadas estão orientadas para as insolações menores e mais salubres, N, NE, L-NE. Esta necessidade suscitou as curvas do projeto e ajustes à topografia. Ainda assim, painéis-brises de correr serão instalados como uma pele exterior para proteção solar e da alta iluminação natural de Brasília. Eles correrão livremente e serão configurados conforme as mudanças do sol ao longo do ano e das necessidades internas das funções. O térreo em pilotis abriga principalmente as funções de lazer, como cozinha e churrasqueira, sauna, varanda, etc, mas também as de serviço como dormitório de serviço, área de serviço, depósito, banheiro de serviço. Com um pé-direito ligeiramente mais baixo, ele proporciona o volume da casa como um todo sugerindo a ideia de uma casa ancorada no aclive do morro em virtude dos generosos balanços na periferia frontal da casa e da opacidade nos fundos. O térreo transita para os espaços abertos de forma imediata e sem barreiras e o piso de pedras portuguesas será o mesmo nos dois espaços, ora recoberto por deque em madeira, ora nu. O deque fornece uma nova textura e ambiência ao entorno da piscina, diminui a reflexão solar e tem tato e sensação térmicas melhores para se tomar sol e ficar à beira d´água. Em suma, cremos ter criado uma casa cuja poesia está centrada na estratégia de agenciar duas naturezas distintas, mas ambas caras ao ser humano: o horizonte descortinado e amplo, ressaltado pela cobertura desmatada do pasto do sítio, com o cerrado preservado no relevo mais pronunciado. E acreditamos que isso tenha sido feito de maneira sutil, apenas sugerido, permitindo que a casa seja compreendida paulatinamente por meio de seu uso cotidiano. |