Residência M&F
[projeto] Brasília, 2011-2012 Autoria: Thiago de Andrade Colaboradores: Alice Menezes, Isabela Oliveira, Natália Costa
Reminiscências Este estudo para uma casa à beira do Lago Paranoá em Brasília deriva de um primeiro, menor e com características de implantação distintas, uma vez que vinha moldando seu térreo para se aproximar do lago. A partir das críticas e das alterações de programa sofridas por parte do primeiro estudo preliminar, adotou-se uma radical modificação em relação à implantação e caráter da residência. Toda a área de lazer migrou para a lateral esquerda do lote, ligeiramente elevada em relação à cota do lago. O térreo, com grande porta de acesso, passou a estar ligeiramente elevado em relação à rua. Além disso, os proprietários passaram a demandar um espaço de pé-direito duplo com grandes estantes de livros visíveis desde o estar, uma sala íntima para receber encontros de trabalho e circulação privativa da garagem para as áreas íntimas, entre outros. Do primeiro estudo restam as surpresas causadas pela contradição entre o espaço externo da casa e o interno, rico em luz natural, com estrutura expressiva, vigas aparentes no espaço interno e pilares independentes denotando e reforçando o pé-direito duplo. A solução adotada foi criar uma casa de volume prismático, desde a rua monolítica, ligeiramente descolado do piso inclinado que leva à porta principal, sobre um pilotis avarandado e bem iluminado. Durante a noite, entretanto, o volume prismático revela iluminação inesperada, através da fachada de mármore translúcido em alguns pontos. A luz passará através da subtração de pequenas janelas que coincidem com a modulação da estante de livros que se encontra apoiada nessa parede externa. A necessária proteção a uma futura ponte, que poderá ser implantada na área verde do lote, deu-se por beirais e brises que avançam protegendo as janelas na fachada sul. Os quartos, completamente descortinados rumo ao lago, fogem ao burburinho da área de lazer e terão esquadrias insuladas de alto desempenho no isolamento acústico. Assim, acreditamos que partindo das contradições entre massa e leveza por meio de balanços e descolamentos do plano do piso, entre opacidade e transparência, entre espaços íntimos e espaços coletivos, entre o pé-direito variado, do baixo ao muito alto, mas principalmente da presença sensível da luz natural, o projeto se configura rico de possibilidades e com muita flexibilidade de uso, buscando perdurar no tempo sem recurso a modismos, com lastro na história. O térreo transita para os espaços abertos de forma imediata e sem barreiras e o piso de pedras portuguesas será o mesmo nos dois espaços, ora recoberto por deque em madeira, ora nu. O deque fornece uma nova textura e ambiência ao entorno da piscina, diminui a reflexão solar e tem tato e sensação térmicas melhores para se tomar sol e ficar à beira d´água. Em suma, cremos ter criado uma casa cuja poesia está centrada na estratégia de agenciar duas naturezas distintas, mas ambas caras ao ser humano: o horizonte descortinado e amplo, ressaltado pela cobertura desmatada do pasto do sítio, com o cerrado preservado no relevo mais pronunciado. E acreditamos que isso tenha sido feito de maneira sutil, apenas sugerido, permitindo que a casa seja compreendida paulatinamente por meio de seu uso cotidiano. |