Meu brilhante colega Oscar Niemeyer
É a ciência e o conhecimento da cultura arquitetônica, sua história e seu desenvolvimento que leva à indignação e aos protestos manifestados por boa parte da população, douta ou leiga. É claro, surgem também, nesse rendez-vous, algumas opiniões pouco balizadas, inflamadas, e mesmo despropositadas, mas isso é só parte dos liberalismos da internet e do alcance e interesse público no debate.
Não é por puro fetiche que tenho um quadro assinado por você pendurado em minha parede, é muito mais por admiração e respeito. Entretanto, como colega nascido em Brasília, apaixonado pela cidade, e que faz um esforço tremendo para entendê-la em sua materialidade dialética, acho as justificativas apresentadas por você um tanto quanto maniqueístas, inverídicas e parciais.
Compreender a história das cidades, do urbanismo e da arquitetura nos leva a um reconhecimento de que as ações perpetradas por arquitetos, poder público ou pela própria população espontaneamente, nem sempre levam a uma evolução, a um aumento da compreensão e qualidades do espaço. Assim, poderíamos gastar desmedido espaço neste fórum, enumerando intervenções desastrosas nas cidades mundo afora: elevados para circulação de automóveis trazem “mudanças impossíveis de conter”, adros de igrejas históricas são desconfigurados pelos densenvolvimentos “impossíveis de conter”, na maior parte das vezes levando os anéis e os dedos.
Assim, o que me preocupa e me concerne é que a perspectiva livre do congresso não necessita ajustes, modificações, nada. É por demais, e suficientemente bela, para ser “completada”.
Oscar, permita-me a intimidade, aceitaríamos de bom grado uma praça útil, mesmo que com função de abrigar um raríssimo “panteão” presidencial, naquele mesmo sítio escolhido. Ali as pessoas fariam hora para pegar seus ônibus, estacionariam seus carros para as atividades culturais, tomariam um chá como imaginou Lucio Costa para o edifício do Touring Club.
Portanto, não é a ideia de uma praça que poderia corrigir e trazer o cosmopolitismo que Lucio imaginou para o cruzamento fundador da cidade que nos desagrada, mas sim a idéia de um obelisco daquele tamanho, já tão distinto dos tamanhos e gabaritos proposto por você ao redor, nas atividades culturais.
Encanta-me pensar que dessa cabeça saiu a praça dos três poderes, impecáveis com seus objetos soltos, sua relação tão bela e pacífica com o congresso e os demais edifícios, em suma, um conjunto de fato! É dessa mesma cabeça que imagino poder sair coisa muito mais siginificativa.
Fraternalmente,
Thiago de Andrade
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Sobre o projeto da Praça da Soberania.*** CA & AC - Cultura arquitetônica & Arquitetura Crítica |
AutorThiago de Andrade é arquiteto pela FAU-UnB. Possui escritório próprio desde 2004 na cidade de Brasília. Arquivos
Maio 2014
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